segunda-feira, 27 de abril de 2009

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Novos horizontes...
Apaixonada pela vida e por todas as oportunidades que Deus tem me proporcionado.
Eu sou feliz!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Trecho de "O Encontro Marcado"

Trecho do livro "O Encontro Marcado" de Fernando Sabino.

Um trecho espetacular que se encontra nas páginas 206, 207 e 208.

De uma sensibilidade absurda!

Trata-se de uma conversa de um velho extraordinário chamado Germano para com Eduardo e Antonieta.

É de se deliciar...


" Antes de sair, voltou-se para Antonieta:

– Ia lhe dizer agora uma coisa muito importante. Mas é tão importante que prefiro não dizer. Só é sincero aquilo que não se diz. Boa noite.

– Então isso também não é sincero – Sorriu ela.

– Também não. Só o silêncio é sincero. O silêncio de uma pessoa dormindo, por exemplo. Como é sincero alguém dormindo! Sincero como uma flor. Imagine se uma flor falasse, que ridículo seria. Por isso é que eu não gosto de desenho animado. Dormindo é que cada um se revela, por causa do silêncio, ou seja: feito a imagem e semelhança de Deus.

– E os que roncam? – Gracejou Eduardo. O velho fulminou-o com o olhar:

– Quem ronca no homem é o demônio. A luta se trava até dentro do sono, só cessa coma morte. Os mortos não roncam, seu doutor, porque Deus vence sempre. O silêncio é a linguagem de Deus. No princípio era o Verbo, Vocês sabem o que é isso? O silêncio, o espantoso silêncio do princípio. Ah! O verbo e o silêncio são a mesma coisa. Que coisa bonita que eu falei, minha nossa senhora. É preciso escutar o silêncio, não como um surdo, mas como um cego! O silêncio das coisas tem um sentido.

Quem não entende isso não entende nada. (...)

– E a música? – desafiou.

– A música – o velho traçou com o dedo uma pausa no ar

– É a expressão mais completa do que estou dizendo. Ou que não estou dizendo, pois é preciso ouvir apenas o que não se diz. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. Eu ia chegar nela. A música também é silêncio. Bach sabia disso, Mozart também. Beethoven só soube quando ficou surdo. O ar não é silencioso? O vento não faz barulho? E que é o vento senão ar? A música é o silêncio em movimento.

– O mesmo com as palavras.

– Não senhor: as palavras estão em quem fala e em quem escuta. O silêncio fica entre os dois, intocado, um silêncio enorme, intransponível. Ao passo que a música está nela mesma, isto é, no que resta além de nós. E o resto é silêncio. Adeus.

Já a porta:

– Reparem como o meu silêncio é mais sugestivo de que qualquer palavra.

Olhou fixamente o casal durante algum tempo e voltou-se, solene, cruzou lento à rua, com a garrafa do uísque na mão.

– Que homem extraordinário – disse Antonieta, deslumbrada.

– Você não viu nada – disse Eduardo, rindo."