quarta-feira, 8 de abril de 2009

Trecho de "O Encontro Marcado"

Trecho do livro "O Encontro Marcado" de Fernando Sabino.

Um trecho espetacular que se encontra nas páginas 206, 207 e 208.

De uma sensibilidade absurda!

Trata-se de uma conversa de um velho extraordinário chamado Germano para com Eduardo e Antonieta.

É de se deliciar...


" Antes de sair, voltou-se para Antonieta:

– Ia lhe dizer agora uma coisa muito importante. Mas é tão importante que prefiro não dizer. Só é sincero aquilo que não se diz. Boa noite.

– Então isso também não é sincero – Sorriu ela.

– Também não. Só o silêncio é sincero. O silêncio de uma pessoa dormindo, por exemplo. Como é sincero alguém dormindo! Sincero como uma flor. Imagine se uma flor falasse, que ridículo seria. Por isso é que eu não gosto de desenho animado. Dormindo é que cada um se revela, por causa do silêncio, ou seja: feito a imagem e semelhança de Deus.

– E os que roncam? – Gracejou Eduardo. O velho fulminou-o com o olhar:

– Quem ronca no homem é o demônio. A luta se trava até dentro do sono, só cessa coma morte. Os mortos não roncam, seu doutor, porque Deus vence sempre. O silêncio é a linguagem de Deus. No princípio era o Verbo, Vocês sabem o que é isso? O silêncio, o espantoso silêncio do princípio. Ah! O verbo e o silêncio são a mesma coisa. Que coisa bonita que eu falei, minha nossa senhora. É preciso escutar o silêncio, não como um surdo, mas como um cego! O silêncio das coisas tem um sentido.

Quem não entende isso não entende nada. (...)

– E a música? – desafiou.

– A música – o velho traçou com o dedo uma pausa no ar

– É a expressão mais completa do que estou dizendo. Ou que não estou dizendo, pois é preciso ouvir apenas o que não se diz. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. Eu ia chegar nela. A música também é silêncio. Bach sabia disso, Mozart também. Beethoven só soube quando ficou surdo. O ar não é silencioso? O vento não faz barulho? E que é o vento senão ar? A música é o silêncio em movimento.

– O mesmo com as palavras.

– Não senhor: as palavras estão em quem fala e em quem escuta. O silêncio fica entre os dois, intocado, um silêncio enorme, intransponível. Ao passo que a música está nela mesma, isto é, no que resta além de nós. E o resto é silêncio. Adeus.

Já a porta:

– Reparem como o meu silêncio é mais sugestivo de que qualquer palavra.

Olhou fixamente o casal durante algum tempo e voltou-se, solene, cruzou lento à rua, com a garrafa do uísque na mão.

– Que homem extraordinário – disse Antonieta, deslumbrada.

– Você não viu nada – disse Eduardo, rindo."





4 comentários:

Max De La Rocha disse...

Oiiiiiiiiii!Estava eu andando..vagando pelos blogs da vida até que me deparei com o seu!Nossa!Lindooooo!Amei o trecho do livro que vc postou!Realmente de uma beleza muito singela!Bem,amei também a sua descrição..dizem que o ato de se descrever é também limitar-se..mas no seu caso..foi feito com muita beleza e bom humor..Parabéns!
Bem,eu também tenho um blog!Espero que vc goste,caso vc o visite!Ali,é o meu depositório e verdades sentidas..Lá é bem limpinho,arejado e bonito tá?Cuide-se e continue assim..sensível e amável.
Com carinho...
Max de la Rocha

Anônimo disse...

Oi juli! Desculpa num ter aparecido antes aqui... só vim ver seu comentario hoje... interresante esse trecho do livro,as minhas maiores reflexoes sao em silencio xD
vi na sua lista de livros favoritos o "O Caçador de Pipas" foi o último romance que li,show! uma historia e tanto e bem cativante tmb

um beijo!
passa lá no meu,ele ta diferente
t mais

Diego Cosmo disse...

Oi juli! Desculpa num ter aparecido antes aqui... só vim ver seu comentario hoje... interresante esse trecho do livro,as minhas maiores reflexoes sao em silencio xD
vi na sua lista de livros favoritos o "O Caçador de Pipas" foi o último romance que li,show! uma historia e tanto e bem cativante tmb

um beijo!
passa lá no meu,ele ta diferente
t mais

Julie disse...

Obrigada pelos comentários!!
Adorei o blog de vcs tbm..
É ótimo ter contato com gente que pensa como a gente! rs
Beijão.